Notech, 2001/2004

” NoTech surge com um curso que teve início de forma despretenciosa, aulas quase sempre ao ar livre, nas escadarias do MuBe (Museu Brasileiro da Escultura), em São Paulo, com dois “mestres”, que se queriam mais interlocutores, ou atiçadores de ideias – Fernando e Humberto Campana -, e um grupo de jovens dispostos a fazer design com as mãos.

O fato novo é que há muitas décadas não víamos o que se poderia chamar de “escola” ou “movimento” (mesmo nas artes), ou seja, um grupo de pessoas, quase sempre jovens, reunido em torno de ideias comuns.

Na verdade, no design brasileiro, temos registro apenas do movimento “Branco e Preto”nos anos de 1960, formado por um grupo de arquitetos, também projetistas de móveis, que se uniam em torno dos mesmos conceitos estéticos ou formais. `A parte esse exemplo, não se “criou escola”, ninguém fundou as bases de uma estética brasileira.

Um grupo de jovens, agora, quase sem perceber, realizou a façanha. Tudo começou com as aulas, ou melhor oficinas. Os irmãos Campana trouxeram da memória caipira esse fazer com as mãos, pegando qualquer sobra ou galho que houvesse por perto: um olhar que atravessa a matéria e redefine seu destino. Uma atitude própria do ir fazendo, experimentando, entrando na alma de cada material para entender o que este quer dizer.

Foi esse saber intuitivo que contaminou seus alunos e permitiu que, dessas aulas, surgisse uma coleção de objetos com linguagem própria, coerentes entre si, expressando ima idêntica intenção.

Uma estética brasileira? Talvez. Não se inventou nada. A transposição de uso dos materiais é usada por diversos designers, em outros países. O novo é o olhar brasileiro – livre, leve, solto, colorido, delicado e bem humorado. “

Maria Helena Estrada. 2001

Foto: Andrés Otero